Newsletter | Natal #5
As memórias que alimentam minha alma
Graças à vacina, à ciência e ao SUS, 2021 vai permitir que a gente reencontre aqueles com quem não pudemos estar no ano passado numa época tão necessária de abraços, afagos e união.
Estou nessa expectativa, contando os dias. Sou daquelas que gosta – e muito - de Natal.
Os dias 24 e 25 de dezembro na minha casa sempre foram um entra e sai de gente. Minha tia faz lista, meu pai vai ao mercado o tempo todo pra pegar algo que alguém esqueceu, minha mãe não sai do fogão, uma prima que chega pra deixar a sobremesa gelando pra mais tarde, outra que compra as quinquilharias de 1,99 pro amigo ladrão, eu que sempre rezo para chegar a tempo de preparar o peru…
Ano passado fomos eu, meus pais e meus tios. Só 5 pessoas, colocamos até a mesa com vasos de flores, jogo americano, prato já no lugar acompanhado de talheres, taças e guardanapo de pano. Uma raridade. O que a gente gosta mesmo é de encher a mesa com a comida e cada um se serve, senta onde dá na sala e grita pra se comunicar com quem acabou na varanda.
Na ceia tem peru, tender, a minha farofa, arroz com passas brancas, arroz sem passas brancas, bacalhau que a cada ano é feito de um jeito e as sobremesas que todos os anos são as mesmas: pavê de pêssego de uma prima, pavê de Bis com sorvete e brigadeiro mole da outra, rabanada e sopa fria - uma receita que minha mãe faz há muito tempo em que ela coloca frutas cristalizadas no sagu. Mas o que nunca falta mesmo – nem no ano pandêmico faltou – é o salpicão de frango defumado da minha mãe. Acho que essa, pra mim, é a comida natalina mais icônica, que só se faz uma vez ao ano e que todos esperam ansiosamente. E a sua, qual é?
Calma que ainda não acabou. No almoço do dia 25 tem leitoa com virado, um clássico desde a época do meu vô Carlim. Esse ano será um pouco diferente, a leitoa dará lugar a um churrasco para facilitar pois as coisas mudam e precisam mudar. Mas o salpicão já foi “encomendado”, dona Gê já comprou o frango defumado e eu respiro aliviada. Afinal, com mudança ou sem, não se mexe no que é importante.
Natal é época pra gente saber que abraços são vitais e que família – seja qual for a sua, de escolha ou de sangue, grande ou pequena – é pra onde a gente sempre pode voltar. E nessa certeza que nos alimenta, cheia de lembranças, aromas e sabores, a comida está longe de ser um detalhe.
Agora, só nos vemos em 2022. Agradeço a todo mundo que de algum jeito embarcou nessa conversa comigo até aqui.
Eu desejo a você um final de ano de muito amor, saúde e de novas memórias gostosas!
Feliz Natal!!!
1 pergunta para.... 5 chefs
Nessa newsletter de Natal eu resolvi que essa coluna seria diferente. Em vez de 5 perguntas para alguém, eu quis saber um pouco das memórias dos chefs de cozinha que eu admiro. Convidei 5 deles e não é que eles responderam? Jefferson Rueda (A Casa do Porco, SP), Roberta Sudbrack (Sud, RJ), Roberto Ravioli (cozinhando como um louco sob encomenda, SP), Manu Ferraz (A Baianeira, SP), João Diamante (comanda o lindo projeto Diamantes na Cozinha, RJ) dividiram suas lembranças mais gostosas e eu viajei no tempo com eles ao ler cada relato. Agora eu espero que você aí também responda: qual é a memória mais deliciosa do seu Natal?
JEFFERSON RUEDA
O cuscuz de galinha caipira e o porco assado eram os pratos clássicos das festas de fim de ano lá em casa. O cuscuz é tradição da minha avó e que passou para minha mãe. Já o porco assado era preparado pelo meu pai. Ninguém em São José do Rio Pardo come peru. Sempre porco como a carne principal das festas!
ROBERTA SUDBRACK
A memória mais deliciosa dos meus natais sempre foi o sarrabulho que a minha Vó Iracema preparava. Ao contrário do que se pode imaginar, ela não fazia como um guisado, mas como uma farofa de miúdos de frango e peru, bem molhadinha. Um pouco ia dentro da peru e o restante ela guardava para enfeitar os pratos. Minha Vó jamais deixou um prato sair da cozinha sem um enfeite, um cuidado ou um carinho. A gente ficava louco pra chegar a hora do jantar para comer sarrabulho, com arroz e salada de batata! Uma combinação exdrúxula, eu sei, mas é a minha melhor lembrança do natal! Aquela farofa molhadinha, com arroz branco soltinho - que ninguém jamais em qualquer tempo fez como ela fazia - e salada de batatas com um pouco de maçã verde misturada! Esse é o sabor do meu natal, das minhas lembranças mais afetivas sobre esta data…
ROBERTO RAVIOLI
As lembranças mais gostosas do Natal pra mim são as comidas italianas que minha mãe e minha avó faziam quando eu era pequeno. Minha avó era italiana, de Lucca, mas morou um tempo com a gente no Brasil. Então, nosso Natal era no Brasil mas com gosto italiano. E são várias comidas, como a salada russa da minha mãe, que se faz muito na Itália ainda, com beterraba que dava umas manchadas na salada e depois os ovos cortados em quartos, parecia brega mas era lindo. Os pimentões cortados em transversal e depois colocados formando uma flor, a maionese que minha mãe batia na mão... Deliciosa. Tender não passava nem pela porta mas o pão frito com crostino toscano não podia faltar, que é feito com fígado de frango, alcaparra, aliche.... eu era pequeno e já adorava. A casa toda cheirava e a gente sabia que era Natal, não tinha como ser diferente.
MANUELLE FERRAZ
Era a noite mais bonita daquele quintal...os assados eram lentamente cozidos preenchendo todos os cantos com aquele cheiro que nos conectava em alegria pois era prenúncio de que havia chegado a noite de Natal.
Da pequena até o adolescer, todos os anos, todo preparo se rendia, quase como um ritual sagrado, aquilo que era tradicional. Da família claro!
Travessas, caçarolas, toda prataria guardada um ano inteiro era cuidadosamente colocado naquela mesa antiga de madeira para dizer: é dia de festejo. E todas as luzes se acendiam enfeitando jabuticabeiras, mangueiras, limoeiros, goiabeiras e tantas outras preciosidades que fazia aquela comunhão ser ainda mais especial.
Quase em cortejo era colocado todos aqueles sabores de uma matriarca que não abria mão de nenhuma iguaria, nem de todos os detalhes. Mas o que fica até hoje em minha memória e desejo é o lombo recheado tradicional da família. Com um recheio que só agora me foi revelado o segredo e todos os ingredientes (são mais de 15...) e a técnica de enrolar para se ter uma camada fina da carne de porco e muito recheio, além do que é preciso fazer para não ressecar o rocambole. Ainda não tenho a destreza dela, de quem herdei tanto, mas me delicio da ancestralidade de tanto valor. Junto a isso é tradição em nossa terra o peixe de rio inteiro desossado e recheado, o salpicão de frango defumado, a torta de peixe seco cremosa e fumegante, até chegar às compotas, o bolo de Reis, o bolo de chocolate escuro com marshmallow crocante de raspa de limão que nunca conseguir replicar e nem encontrar em outra lugar. A minha memória mais deliciosa de Natal não é um prato, uma receita em especial, mas sim de um festejo, um banquete, de uma mesa gigante e farta daquilo que nos confere identidade.
JOÃO DIAMANTE
Mesmo com a situação difícil , no natal minha família se juntava e eu tinha o privilégio de ter uma mesa farta. Cada um levava um prato. É um momento de alegria poder escolher o que comer e como não era frequente eu acabava até exagerando. Gastronomicamente falando, a memória mais afetiva é a rabanada do dia seguinte, que ficava guardada na geladeira. Eu gosto da rabanada quentinha também, feita na hora, mas essa me lembra muito a minha infância. E quando a gente é criança, a gente quer comer muito. E comia mais quem acordava primeiro. Então, eu sempre acordava cedinho e ia comer a rabanada dormida com café. Tem um gosto especial. Até hoje eu faço.
Extra! Extra! Arroz natalino do chef Ravioli
Eu trabalhei por uns 3 ou 4 anos com o Chef Roberto Ravioli. Fazíamos um quadro na televisão onde nos divertíamos conhecendo histórias de pessoas e cozinhando receitas que elas nos inspiravam a ensinar.
Num certo final de ano, fizemos um peru de Natal e o Ravioli teve uma ideia genial, que em seguida reproduzi na minha casa. Quase deu briga familiar de tão bom que ficou! Virou obrigatório a partir de então. Eu adoro quando a receita anda pra lá e pra cá!
#foiassim
Quando você for assar o peru coloque por baixo dele umas rodelas de batata cortadas mais grossas temperadas com sal, pimenta do reino e bem regada com azeite. Depois que o peru assa sobre as batatas, elas ficam de enlouquecer de boas. Corte essas batatas em pedaços e reserve. Numa frigideira frite bacon e depois na gordura do bacon refogue cebola cortada não muito pequena. Eu gosto de cortar em quadrados. A cebola não precisa caramelizar, é só refogar e ela ficar mais molinha. Agora é só misturar o arroz branco já cozido com as batatas assadas em pedaços, o bacon frito, a cebola refogada e, pra arrematar, o caldo da assadeira que assou o peru. O que mais nos resta depois disso? Jogar por cima uma salsinha e servir.
Foi Assim... Salpicão da D. Gê
Acho que nem preciso mais falar sobre ele. No texto do começo dessa newsletter já apresentei esse salpicão com toda a importância que ele tem. Ano passado eu publiquei a receita dele no meu Instagram. É imperdível.
Para ver a receita, clique aqui.
Looping do momento
Vocês devem ter visto aos montes no Instagram. Reels e mais reels da massa folhada em formato de árvore de Natal. Eu vi vários. Mas em todos eu parava pra assistir, em looping, por algumas vezes. O modo de fazer é igual, só muda o recheio. Mas eu ficava lá, assistindo. Me apaixonei. Uma ideia super legal para fazer com as crianças. Aqui compartilho uma árvore de massa folhada salgada, recheada de pesto, bem deliciosa. Mas de ganache de chocolate, de goiabada e de doce de leite com nozes ficam bem boas também, vai.
Se você já viu e quer ver de novo, clique aqui. Se você não viu, clique aqui também. E Feliz Natal!!!