Newsletter | Vamos fugir #13
Somos escolhas; Vamos fugir pra onde?; 5 Perguntas para Rita Lobo; Uma receita de Natal que a Rita gosta; Meu especial de Natal - ideias diferentes mas nem tanto para você fazer na ceia natalina.
Essa newsletter sempre chega até você quando um mês está acabando e outro está prestes a começar (é bem verdade que mês passado ela não chegou). Mas, dessa vez, não é só o mês que está acabando… o ano também. Não dá pra acreditar. Mas já? Talvez a velocidade com que tudo está acontecendo explique o cansaço… tá todo mundo cansado, não tá? Querendo o quentinho do sofá... Outro dia, me vi de mau humor especialmente com a rotina da atividade física. Me vi muito aquariana, querendo não fazer tudo o falam que é preciso fazer. Fiz o que não dava pra fazer careta. Tipo, trabalhar. Minha chefe é gente boa mas não abuso. Cumpri a agenda obrigatória. A que deu pra me esquivar, eu deixei passar. Me dei um prazo pra curtir a rabugentice: uma semana. E confesso que eu aproveitei. Ahhhhh, aproveitei! Estava certa dessa decisão tomada pela imposição do cansaço, não questionei nem por um minuto.
Mas… como eu falo que o universo é um menino travesso, só de sacanagem o meu Instagram NÃO PAROU de tentar mudar a minha ideia. Era a Tina com o “inegociável do dia”, o “ tá pago” da Soraya, a Lílian focada no “eu me amo”, a Camila com o “não subestime o poder do pouco todo dia” e a Paola parando a vizinhança com a foto de top na esteira e “os 3km de hoje”. Todo mundo resolveu malhar, meu Deus do céu? Eu me mantive firme por 7 dias, meu sofá que o diga. E enquanto sentia as dores da inércia e as consequências da minha atitude pouco adulta, percebi que somos escolhas, o tempo todo. Se vamos para a direita ou para a esquerda, é a gente que escolhe. Mesmo quando o waze manda você virar e você resolve ir reto porque talvez ali esteja melhor, são escolhas, o tempo todo. Eu sou a Rainha de desobedecer o waze e às vezes a minha escolha me direciona para o melhor. Às vezes, não. A vida, né, queridos?
Esse é um tema que toma os meus pensamentos especialmente nessa época do ano. Se não para me guiar no ano futuro, que seja para entender o lugar que ocupo no presente. Outro dia, em conversa com um amigo, ouvi que ele me via como uma crítica gastronômica. Não foi o primeiro que me disse isso nos últimos meses. E eu estranho quem me vê assim. Não é como eu acho que me coloco. Não é como eu escolho me colocar. Pronto, um triplex ocupou a minha cabeça com o tanto de pergunta que eu me fiz a partir daí. Sim, faço perguntas para mim mesma e respondo, analiso se a resposta é boa, mudo a resposta e às vezes chego em algum lugar confortável. É um processo, mas sou eu.
A minha primeira reação foi: “mas gente, de onde você tirou que eu sou uma crítica gastronômica?!”. A segunda foi: “eu hein, nada a ver!”. A terceira foi: “mas porque você acha que eu sou uma crítica gastronômica?”. A quarta: “bom, talvez eu possa ser também uma crítica gastronômica”. A quinta, já sozinha eu na minha cama: “Qual é o problema de ser uma crítica gastronômica?!”. A última, na sequência: “Ainda existe crítica gastronômica?”.
Eu vou poupar vocês da ladainha que eu escrevi (e apaguei) explicando pra mim mesma o que eu faço aqui, o que eu faço no Instagram como a abocanervosa e o que eu quero tanto e tanto fazer em outros tantos e tantos canais sobre comida. E mais o que isso tudo poderia ter a ver com a percepção do meu amigo. Mas o fato é que às vezes, a gente simplesmente não escolhe. A vida dá um jeito de escolher pela gente e, com um pouquinho de intuição, quando vê, já virou a direita. Nem que seja pra chegar mais rápido. Ou já seguiu reto pela avenida que parecia mais florida. Quem sabe ainda, foi por onde demorou mais só porque, no fundo, precisava da segurança do previsível, de um caminho conhecido. Se vai ser bom ou não, é outra coisa.
2025 vem aí. E eu quero agradecer você pela escolha de continuar me lendo. Quero desejar também que as nossas escolhas nos levem sempre pras melhores rotas do waze e pros melhores caminhos da vida. E que esses, passem pela cozinha. Sempre e sem duvidar.
Vamos fugir?!
Eu escolhi esse nome na newsletter quando eu comecei a escrever a crônica acima, que tinha outra intenção. Mas terminei e o texto acabou indo pra outro lugar. De maneiras que eu me apeguei ao título dantes imaginado e não consigo mais mudar. Pode ser uma proposta pra 2025? Pode ser uma ideia pra terminar 2024? Uma provocação pra quem ainda tem toda uma ceia de Natal pra planejar? Tudo pode. Afinal, a escolha é de quem?
5 perguntas para… Rita Lobo
Eu nem consigo datar desde quando eu me conectei com a Rita Lobo. Talvez essa seja a forma mais correta de explicar a relação que eu tinha com ela, antes de conhecê-la. Eu não era uma fã da Rita Lobo. Eu era uma admiradora do seu propósito. Sempre enxerguei qual era essa motivação por trás daquela receita em 30 minutos ensinada num estúdio bem cenografado, numa maquiagem bem feita por uma mulher linda dando conta de um roteiro que eu não conseguia descobrir se aquelas piadas eram escritas por alguém ou se eram dela mesmo. Hoje eu sei, são dela mesmo. A comida me juntou à Rita muiiiitooo antes de eu ir trabalhar com ela. E esse é o poder da televisão. Sem eu ainda saber que ela é doida por café e que sempre toma com leite, que não pode ver um gato pra conversar e um microfone pra cantar e que ela acorda num bom humor quase irritante, eu já me sentia próxima dela, seja por tantas coisas que aprendi vendo o Cozinha Prática, seja pela dedicação à cozinha como um lugar não só possível mas necessário para mulheres, homens, todos.
Bom, aí como roteirista, a conheci quando o projeto da série documental “Prato Feito Brasil” foi parar no núcleo do qual faço parte na Globo. Eu fui a roteirista e com ela fechei frase a frase do roteiro. Depois de escrito, sentávamos geralmente num sábado na casa dela e passávamos umas 7h horas sem exagero na leitura, na reescrita, no fechamento. Me lembro do primeiro desses sábados, quando acabamos era umas 21h. Eu, sem graça, falei: “bom, vou embora…”. E ela: “não, péra, a gente trabalhou até agora, pelo menos uma taça de vinho!”. E assim foi. E assim foram.
Faz um ano que essa série marcou a TV aberta por falar para um público muito amplo sobre a importância da gente reconhecer que o Brasil tem uma dieta riquíssima em saúde para chamar de sua e um jeito de comer que é só nosso. E faz um ano que eu acho que conheço a Rita há muito mais tempo, só não tinha o seu whatsapp. Agora eu tenho. Bom, pra fechar 2024 e inspirar vocês a acreditarem nas suas escolhas, para essa coluna obviamente eu escolhi ela, a mulher que mais ajuda o Brasil a escolher melhor quando o assunto é comida.
1- Você era modelo e foi estudar gastronomia bem jovem. Como e quando, de fato, foi a sua escolha pela cozinha?
R.L.: Aos 18 anos me aposentei (risos) de uma carreira de três anos trabalhando como modelo. E resolvi fazer um curso de gastronomia. Não porque eu queria trabalhar com comida, mas porque eu queria aprender a cozinhar – não sabia fazer nada. Esse processo, de aprender a cozinhar, naquele momento, foi a coisa mais legal que eu já tinha feito na vida. Queria que todos os meus amigos aprendessem a cozinhar. E, desde então, é isso que eu faço: ensino todo mundo a cozinhar, basta querer. Aprender a cozinhar transforma a vida. Ela fica mais saborosa –impacta até nas relações, uma vez que você não depende de ninguém pra preparar as suas refeições. E também na saúde: você ganha autonomia pra evitar os ultraprocessados.
2- Depois de formada, você escolheu um caminho que, na época, era bem diferente para uma futura chef de cozinha. Você já se via sendo o que de fato escolheu ou foi mais natural ter virado uma apresentadora de TV e uma das maiores influências e referências de cozinha no Brasil?
R.L.: Nos Estados Unidos, onde fui estudar, havia um mercado editorial e audiovisual gigantesco no campo da culinária. No Brasil isso era restrito. Eu enxerguei que isso iria mudar, que falar de comida iria além dos programas destinados às donas de casa, que seria um assunto para um público maior. Só o que eu não previ foi o advento da internet (risos). E foi isso que permitiu que eu fizesse o meu negócio. O Panelinha já tinha mais de 10 anos e os meus livros já eram bestsellers quando resolvi fazer televisão. Achei que era importante, naquele momento, pra ampliar o público. É a soma de tudo que faço e a seriedade em relação ao conteúdo que produzimos que me colocou nesse lugar de reconhecimento como defensora da comida de verdade. Não é simples conseguir trabalhar nesse mercado sem fazer parcerias com marcas de ultraprocessados. Mas o propósito de melhorar a alimentação das pessoas me ajudou a criar um modelo de negócios muito inovador.
3- Eu imagino que quando você começou, você recebeu alguns rótulos, as pessoas deviam te ver de formas diferentes e inclusive diferente do que você mesma se propôs a fazer. É verdade isso? Como as pessoas te viam quando você apareceu na TV ensinando o povo a cozinhar?
R.L.: Qualquer transição de carreira tem seus obstáculos, mas o Panelinha fez muito sucesso desde o início. E até eu começar a fazer televisão, ele já era consagrado pelo público, que inclusive criou o slogan, “receitas que funcionam”.
4- Hoje, com 25 anos de Panelinha e tanto reconhecimento inclusive fora do Brasil, pra que lugar você acha que a cozinha de fato te levou? E como é saber que você influencia na escolha das pessoas quando elas decidem ir pra cozinha?
R.L.: A cozinha foi chegando mais perto da ciência. E eu fui junto. A educação está no meu DNA: nos dois lados da família têm muitos professores. Então, hoje eu me vejo num lugar que é mais ligado à saúde do que a gastronomia.
5- Agora você tem que escolher. Se na sua cozinha só pudesse ficar um desses 2 ingredientes, qual seria?
1) alho ou cebola? R.L.: cebola
2) arroz ou feijão? R.L.: arroz
3) pão ou bolo? R.L.: pão
4) chocolate ou doce de leite? R.L.: chocolate
5) ervas frescas ou especiarias? R.L.: ervas frescas
*** Falando em Ervas e Especiarias, esse é o nome do novo livro da Rita, pra ajudar as pessoas a temperar a comida. Não só pegar o jeito mas perder o medo das muitas opções de temperos que a gente tem a disposição. Um belo presente de Natal, pra você mesmo/a inclusive.
Clique aqui e vá para o site da Amazon pra você comprar.
O Natal da Rita
Eu pedi pra Rita, além de responder essas 5 perguntinhas, uma receita de algo que ela adora fazer e comer no Natal da casa dela. Eis a receita, que também está no Panelinha. Alias, clique aqui para ver mais receitas do Panelinha para o Natal.
Chutney de abacaxi - “Combina demais com os assados de Natal, seja qual for o tipo de carne, e alegra o prato”.
Combina mesmo. E se for aquela carne sem molho então, combina mais ainda.
Ingredientes
1 abacaxi
2 maçãs fuji
1 pimentão vermelho
½ xícara (chá) de uva-passa branca
½ cebola-roxa
1 dente de alho
½ pimenta dedo-de-moça
1 colher (sopa) de gengibre ralado
¾ de xícara (chá) de açúcar mascavo
caldo de 1 limão
1 colher (sopa) de manteiga
½ colher (chá) de curry
sal a gosto
Modo de preparo
Descasque e pique fino a cebola e o dente de alho. Lave e seque o pimentão e a pimenta dedo-de-moça. Corte o pimentão ao meio, descarte as sementes e corte cada metade em cubos de 1 cm. Descarte as sementes e pique fino a pimenta dedo-de-moça.
Descasque as maçãs e corte cada uma em fatias de 1 cm. Descarte as sementes e corte as fatias em cubos de 1 cm. Transfira as maçãs para uma tigela e regue com o caldo de limão. Descasque e corte o abacaxi em cubos de 1 cm – não precisa descartar o miolo.
Coloque a manteiga numa panela grande e leve ao fogo médio para derreter. Acrescente a cebola, o alho, a pimenta dedo-de-moça e o gengibre. Tempere com uma pitada de sal e mexa por 2 minutos até murchar.
Abaixe o fogo e junte as maçãs (com o caldo de limão), o abacaxi e o pimentão picados. Adicione o açúcar, tempere com o curry e ½ colher (chá) de sal. Misture bem, tampe e deixe cozinhar por 5 minutos – nesse tempo as frutas vão liberar o próprio caldo.
Misture as uvas-passas e deixe cozinhar com a tampa entreaberta por cerca de 30 minutos, mexendo de vez em quando com a espátula até as frutas ficarem macias e o caldo reduzir sem secar completamente – o chutney deve ficar úmido. Se preferir um chutney menos pedaçudo, pressione os cubos com a espátula para desmanchar parcialmente as frutas.
Transfira o chutney para um pote de vidro esterilizado, com fechamento hermético e deixe amornar em temperatura ambiente antes de levar para a geladeira. Sirva frio como acompanhamento de grelhados, carnes assadas, peixes ou ensopados.
Especial de Natal
Estou aqui pensando na coisa linda que é a previsibilidade da comida de Natal. A gente já sabe o que vai ter e, mais do que isso, a gente espera por isso. A gente sabe o que vai comer e guarda esses sabores pra essa data de reunião familiar, de fechamento de ano, de fé pra quem tem, de acolhimento. Não é lindo isso? Por mais que uma coisa ou outra mude de casa pra casa, a escalação é basicamente a mesma: um salpicão, um assado com frutas ou sem, uma farofa agridoce, um arroz incrementado. Cada um leva uma coisa, tudo se junta, e a mesa tá posta. Eu amo o Natal.
Nessa edição especial da newsletter, resolvi compartilhar algumas receitas que eu fiz e que não são necessariamente de Natal mas que eu acho que podem fazer bonito numa ceia. Todas são de 2020, um ano que o Natal de todo mundo foi diferente. Nos apegamos à comida, nos agarramos no conforto que ela podia trazer naquele momento difícil. Fazendo a seleção das receitas agora me passou um filme na cabeça ao mesmo tempo que lê-las me encheu a boca de vontade. Se você ainda está com dúvidas sobre o que fazer, as ideias podem te inspirar.
Eu tentei escolher uma receita de cada item básico da ceia: um arroz, uma farofa, uma carne e um salpicão. Já o capítulo sobremesa, bom… eu não consegui escolher uma entre 3 possibilidades absolutamente deliciosas, então deixei essa escolha pra vocês. Para não esticar demais essa newsletter e ela acabar gigantesca, resolvi criar um post para as receitas. Esse post vai acabar chegando no seu email como uma newsletter. Mas deixo aqui também o link caso você já queira partir pra lá. De antemão, falo um pouco sobre as minhas escolhas abaixo:
Uma boa opção para fazer cia para o peru ou ainda no lugar dele, é uma carne de porco. O “porco bêbado” que eu fiz inspirada por uma receita da Marcella Hazan pode ser uma versão diferente.
Já a farofa, escolhi a de abacaxi com bacon e cebola roxa, que faz sucesso sempre, desde que eu a criei com a Nathalia Sifuentes. Ela está também no ebook só de farofas que eu fiz com a Tati Marques. Quem não tem, precisa ter porque além de várias receitas a gente ainda explica como você pode criar a sua própria farofa.
O arroz é o de banana com berinjela que, acreditem, é uma delícia. Por ser agridoce, fica perfeito para acompanhar uma refeição natalina.
O salpicão é o único possível no meu mundo que é o da minha mãe. Sempre ele, que nunca, nunquinha, pode faltar numa ceia de Natal dos Tezoto. Eu sei que salpicão é uma receita que cada família tem a sua mas caso você queira uma versão a mais, Dona Gê ficará feliz de te inspirar.
E para sobremesa, como eu falei, eu resolvi ser mais generosa e escolhi 3: pudim de pão com coco, tiramisu de panetone e torta folhada de maçã. Acho que sobremesa é sempre aquele item da refeição em que o bordão “menos é mais” não se adequa.
Para ver as receitas do especial de Natal, é só clicar aqui. Ou checar o seu email que elas vão chegar por lá também.
Feliz Natal, gente!!!! E uma linda chegada de 2025 por aí. <3
Que newsletter Lu. Eu escolho lê-las sempre que as recebo. E cá estou escolhendo mentalmente, por enquanto, testar todas receitas também. Happy Natal e um 2025 cheio de inspiração.
Feliz Natal, minha amiga querida. Eu escolho ser sua amiga todos os dias, mesmo morando longe uma da outra! Vontade imensa de te abraçar depois de ler esse texto lindo!