Voltamos. Com feijão.
Seis meses depois, uma news; o arroz com feijão do Alex Atala no menu executivo do Dom; uma memória com feijão e meu pai que nem eu sabia que morava dentro de mim; vontade de conversar mais.
Essa é a primeira newsletter que eu envio em 2025. Estamos em junho! Como pode ter passado tanto tempo sem que a gente converse por aqui? Bom, eu poderia listar uma série de coisas mas vou poupar todos vocês de mais uma pessoa fazendo oversharing da vida corrida. Cada um com a sua, não é mesmo?
O fato é que desde a última news sobre o Natal até hoje, muita gente nova chegou! Todo dia é um assinante novo me chamando pra voltar (obrigada por isso!). E pensei de deixar as coisas aqui mais leves para que um texto ou outro eu consiga compartilhar e a gente mantenha o papo sempre rolando, sempre aberto. Vocês topam? Os textos vão saindo à medida que eu tenha algo pra contar, pra falar… ou pra refletir porque a gente gosta de uma cronicazinha, né? E quando der, terá “5 perguntas para…”, receita e tudo o mais.
Uma coisa que eu venho querendo fazer com vocês é contar um pouco mais sobre o meu olhar pra algumas experiências gastronômicas que eu tenho vivido. Lá no Instagram o espaço é curto, não cabe a poesia de uma observação mais detalhada, de um sentimento despertado. Não é crítica gastronômica… é outra coisa, gente! Me contem nos comentários se vocês gostam da ideia, tá bom?
A outra coisa é fazer esse papo aqui ganhar mais a cara de vocês. Somos uma comunidade mas a gente precisa se conhecer. Não só eu a vocês, mas vocês entre vocês. rsrs. Deu pra entender? De vez em quando vou deixar uma pergunta na news que eu adoraria que vocês respondessem. Quem sabe, rola?!
Então é isso. Voltei. <3
O arroz com feijão do Alex Atala
Eu sei que enquanto você lê esse texto, já tem gente fazendo cara feia. Sim, nós vamos falar sobre o arroz com feijão do Alex Atala. E a cara feia eu sei que não é pro arroz com feijão. É pro arroz com feijão do Alex Atala. Muita gente considera que um chef de cozinha de renome como o Alex, o “chefão” como ele é conhecido, não deveria servir arroz com feijão e, obviamente, cobrar por essa combinação o que o Dom cobra.
Eu não acho.
Nos almoços, o Dom serve um menu executivo que é composto por uma saladinha de entrada (uma salada bem simples, de alface e alguns tomatinhos cortados ao meio como eu faço na minha casa) e depois, à mesa, surge tudo junto na cadência de um balé: arroz, dois tipos de feijão (preto e marrom), farofa, batata frita, couve refogada, banana frita e “a proteína” que você escolher: peixe, frango ou escalope de mignon. Almoço caseiro. É tudo gostoso. Especialmente a banana, frita numa excelência porque a casquinha bem sequinha tem sabor e a fruta é firme porém madura. Me desculpem, mas fico extremamente feliz quando servem banana com arroz e feijão. A farofa também, hiper crocante, com bacon frito numa medida que mantém a suculência e o sabor da gordura. Dá água na boca de lembrar. A couve tem aquele tempero de mãe, com alho equilibrado, pedi repetição várias vezes. E, no meu caso que escolhi o frango, ganhei um belo peito de frango macio, suculento do começo ao fim, bem servido. Já ouço vozes: “ah, mas tem segredo nisso?”. Tem. Mas claro que não falo de nada do que uma mãe cozinheira de mão cheia não faça. É bom, é farto. É aconchegante. Comida de mãe também é. Mas não é aí, a meu ver, que está a maior parte da graça de ir no Dom, num dia de semana, pagar 180 reais num menu executivo, pra comer arroz e feijão, como já ouvi.
A meu ver, é lindo que o arroz com feijão ocupe um lugar de destaque e de excelência num templo da alta gastronomia. O Dom é conhecido mundialmente. Fazer essa comida brasileira – essa do nosso hábito mais cotidiano das casas por aqui - respeitando técnicas pra que ganhe espaço numa mesa chique e pomposa de madeira, com jogos americanos do mais puro linho, ah eu acho legal demais. O serviço é um caso à parte. Pode ser banal pra quem já está acostumado com a casa cheia de serviçais, como deve ser mesmo a realidade de muitos clientes fiéis do Dom. Mas pra mim e pra muitos e muitos que vão lá, não é. Não deveria ser. Panelinhas brilhosas, de cobre por fora e com pegadores dourados, chegam à mesa por aqueles garçons que sabem que a hospitalidade é tão ou mais importante do que a comida. São eles que falam pra gente: você é bem-vinda aqui. E não é bem-vinda só quando paga pelo ineditismo do menu degustação do chef, mas também quando vem almoçar com a gente, em casa, um arrozinho com feijão , uma batatinha cortada com maestria e bem crocante, uma couvezinha pra comer à vontade, um franguinho muito bem feito. É uma comida tão nossa que é falada assim mesmo, no diminutivo, com o carinho que a gente tem – ou deveria ter – por essa que é a dieta que nos define. Somos quem somos porque comemos arroz com feijão.
Depois desse banquete, vem um pudim bem bem cremoso, sem caramelo em excesso, e a essa altura você já esqueceu que está no Dom dos prêmios, das listas... parece que você está na casa de um amigo. No cafezinho, contudo, você lembra onde está de novo. Ele vem com um biscoitinho que é um mini bolo de rolo, só que crocante, recheado de um boursin de queijo de cabra que espalha na boca. Coisa de chef. Coisa fina. Já se passaram muitos dias que eu comi essa delícia e só de falar já queria voltar lá só pra comer mais um.
Vamos deixar o arroz com feijão ocupar todos os lugares, gente! Inclusive voltar pra nossa mesa. Fiquei feliz demais de sentar à mesa da sua casa, Alex.
Nota: O menu executivo está disponível no DOM de segunda à sexta, das 12h às 15h.
Ah, o feijão!
Quando eu roteirizei o programa “Prato Feito Brasil”, com a Rita Lobo, visitei alguns lugares do Brasil pra saber como o brasileiro come, como cada região organiza a dieta brasileira a depender dos seus hábitos e ingredientes locais. Sim, a dieta brasileira é uma fórmula, seguida por nós sem a gente nem perceber.
E o consumo do feijão me chamou a atenção. No Pará, o “feijão adubado” ganha vários legumes no cozimento. Vocês já pensaram em colocar maxixe no feijão? abóbora combina demais.
Na Bahia, o fradinho vai da saladinha ao acarajé. Eu amo feijão na salada…
Em São Paulo, caldoso. No Rio, o preto com linguicinha. Em Minas, misturado à farinha de milho vira tutu. Só coisa boa!

Me lembro do jeito que meu pai comia feijão quando eu era adolescente. Um dia resolvi sentar com ele à mesa e acompanhá-lo. Na hora pensei: porque não fiz isso antes? Era assim: ele chegava do trabalho, tomava banho, não raro colocava um pouco de whisky num copo e começava o ritual antes da minha mãe terminar o jantar. As panelas ainda ferviam no fogão e ele já roubava um pouco do feijão caldoso e quente colocando num prato fundo. Por cima, um pouco de azeite, um pouco de vinagre (a gente ama vinagre em casa) e misturava bem. Só pra vocês posso contar: algumas vezes ele colocava um pouco de ketchup também. Outras, molho inglês. hahaha. Vocês já entenderam o espírito da coisa né? Ele temperava o feijão, quente. Depois, colocava uma fatia de queijo minas, mas aquele queijo minas mais curado, tipo Canastra. Não pode ser o mais insosso, não… E amassava com um garfo. Sim, amassava com um garfo. Daí, misturava tudo. Se tivesse cebolinha, ia por cima. E comia, com colher, numa alegria imensa. Era o aperitivo dele, antes do jantar. Só de escrever minha boca salivou. Precisamos fazer isso de novo logo, pai!
"Feijão não se aprende, se herda." — Nina Horta
E vocês?
Como gostam de comer feijão por aí? Como temperam? Vamos conversar.
Eu amo e me sinto nutrida quando como. No momento, estou com sintomas de abstinência. Eu moro em Berlim e quebrei o pé. Aqui não se acha feijão com arroz tão facilmente e não tem delivery que entregue um bom PF. Faz exatamente um mês que não como arroz com feijão e isso me levou a sonhar duas vezes que eu estava devorando um prato da iguaria com farofa. Essas fotos do executivo do DOM me deixaram com lágrimas nos olhos.
A atrasada aqui acabou de ler a newsletter e já está comemorando que tem feijão fresquinho em cima do fogão! Minha mãe, nos dias de feijoada, preparava um molhinho delicioso (acho q vc já comeu lá em casa!): caldo do feijão, azeite, suco do limão - ou vinagre- , pimenta e cheiro verde. Me emociono ao lembrar e ao preparar, comida tem esse poder de encher a gente de saudade, né?! Estava com saudade do seu texto, Lu! Agora vou ali comer meu arroz com feijão!